O recuo dos glaciares desde 1850, de forma global e rápida, afecta a disponibilidade de água doce para irrigação e uso doméstico,
as actividades de montanha, animais e plantas que dependem da água produzida durante os períodos de degelo, e num prazo mais
alargado, o nível dos oceanos. Estudada pelos glaciólogos, a coincidência temporal do recuo dos glaciares com o aumento medido
da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera é muitas vezes citada como pilar da evidência do aquecimento global
antropogénico. As cordilheiras montanhosas das zonas temperadas como os Himalaias, Alpes, Montanhas Rochosas, Cordilheira
das Cascatas e os Andes meridionais, bem como cumes tropicais isolados como o Monte Kilimanjaro na África, apresentam, proporcionalmente,
a maior diminuição da extensão dos glaciares.
A Pequena Idade do Gelo foi um período, que se estendeu aproximadamente de 1550 a 1850, em que o mundo esteve sob temperaturas
relativamente baixas quando comparadas com as actuais. Subsequentemente, até 1940 os glaciares um pouco por todo o mundo retrocederam
à medida que o clima se tornava mais quente. O recuo glaciar abrandou, e em muitos casos foi mesmo revertido, entre 1950 e
1980 em resultado de um ligeiro arrefecimento global. Porém, desde 1980 um significativo aquecimento global tem conduzido
ao recuo cada vez mais rápido e generalizado, de tal forma que muitos glaciares desapareceram e a existência de grande parte
dos que restam no mundo está ameaçada. Em regiões como os Andes na América do Sul e Himalaias na Ásia, o desaparecimento dos
glaciares aí existentes poderá afectar significativamente os recursos hídricos disponíveis. A regressão dos glaciares de montanha,
especialmente na América do Norte ocidental, Ásia, Alpes, Indonésia e África e ainda nas regiões tropicais e subtropicais
da América do Sul, tem sido utilizada como evidência qualitativa do aumento da temperatura ao nível planetário desde o final
do século XIX. Os recentes recuo substancial e aumento da velocidade de recuo verificados desde 1995 em certos glaciares dos
mantos de gelo da Gronelândia e Antártica Ocidental, podem ser o prenúncio de uma subida do nível do mar, com efeitos potencialmente
dramáticos nas regiões costeiras de todo o mundo.
Sumário
|
Balanço de massa em glaciares
|
Glaciares tropicais
|
África
|
América
|
Oceania
|
Glaciares em latitudes médias
|
Europa
|
Ásia
|
Oceania
|
América do Norte
|
Estados Unidos da América
|
Canadá
|
América do Sul
|
Regiões polares
|
Islândia
|
Canadá
|
Europa do Norte
|
Gronelândia
|
Antárctica
|
Impactos do recuo dos glaciares
|
Balanço de massa em glaciares

Este mapa mostra as mudanças nos balanços de massa em glaciares de montanha desde 1970: adelgaçamento a amarelo e vermelho
e espessamento a azul.

Balanço de massa dos glaciares a
nível global, nos últimos 50 anos, relatado ao WGMS e NSIDC. A tendência crescente de diminuição nos finais da década de 1980
é sintomática do aumento do ritmo de recuo e do número de glaciares em recuo.
Crucial para a sobrevivência de um glaciar é o seu balanço de massa, isto é,
a diferença entre a acumulação e a ablação (a perda de gelo por derretimento e sublimação) num glaciar. As alterações climáticas
podem provocar variações na temperatura e na queda de neve, levando a mudanças no balanço de massa. Um glaciar com um balanço
negativo continuado não está em equilíbrio e retrocederá. Um glaciar com um balanço positivo está também fora de equilíbrio,
e avançará para restabelecê-lo. Actualmente há alguns glaciares em crescimento, apesar de os seus modestos ritmos de crescimento
sugerirem que não se encontram muito longe do ponto de equilíbrio
O recuo de um glaciar resulta na perda da sua região menos elevada. Uma vez
que nas elevações maiores as temperaturas são mais baixas, o desaparecimento da porção mais baixa de um glaciar reduz a perda
total, aumentando assim o balanço de massa e potencialmente reestabelecendo o equilíbrio. Porém, se o balanço de massa de
uma porção significativa da zona de acumulação é negativo, o glaciar encontra-se em desequilíbrio com o clima e derreterá
se este não se tornar mais frio e/ou se não ocorrer um aumento na quantidade de precipitação gelada.
O sintoma chave de um glaciar em desequilíbrio é o seu adelgaçamento ao longo
de toda a sua extensão . Por exemplo, o glaciar Easton (ver abaixo) provavelmente
diminuirá a sua extensão para metade, mas com um ritmo de redução decrescente. No entanto, o glaciar Grinnell, verá a sua
extensão diminuída a um ritmo crescente, até desaparecer totalmente. A diferença entre estes dois casos é que a secção superior
do glaciar Easton mantém-se em bom estado e coberta de neve, enquanto que mesmo na sua secção mais elevada o glaciar Grinnell
se encontra sem cobertura de neve, derretendo-se e diminuindo a sua espessura. Pequenos glaciares com pequena variação da
altitude ao longo da sua extensão entram mais facilmente em desequilíbrio com o clima.
Os métodos utilizados para medir o recuo dos glaciares incluem a marcação do
seu ponto terminal, cartografia por GPS, cartografia aérea e altimetria por laser.
Glaciares tropicais
Os glaciares tropicais encontram-se situados entre o Trópico de Câncer e o Trópico
de Capricórnio, na região entre 23º26'22 a norte ou sul do equador. Os glaciares tropicais são os mais estranhos de todos
os glaciares, por várias razões. Em primeiro lugar, os trópicos são a zona mais quente do planeta. Além disso, as mudanças
sazonais são mínimas com temperaturas elevadas durante todo o ano, resultando na ausência de um inverno frio durante o qual
a neve e o gelo se possam acumular. Por último, são poucas as montanhas situadas nestas regiões suficientemente altas para
que sobre elas exista ar suficientemente frio para que se formem glaciares. Todos os glaciares situados nos trópicos encontram-se
em picos montanhosos isolados e elevados. De um modo geral, os glaciares tropicais são mais pequenos que os encontrados nas
outras regiões e são os que mais facilmente mostram uma resposta rápida a padrões climáticos em mudança. Um pequeno aumento
de temperatura, de apenas alguns graus, pode ter um impacto quase imediato e adverso nos glaciares tropicais.
África
Com a quase totalidade do continente africano situado nas zonas de clima tropical
e subtropical, os glaciares restringem-se a dois picos isolados e à cordilheira de Ruwenzori. O Kilimanjaro, com 5895 m, é
o pico mais alto do continente. Desde 1912, a cobertura glaciar no cume do Kilimanjaro, regrediu aparentemente 75%, e o volume
de gelo é actualmente 80% menor do que aquele de há um século atrás, devido ao recuo e ao adelgaçamento. No período
de 14 anos compreendido entre 1984 e 1998, uma secção do glaciar no cume desta montanha regrediu 300 m.Um estudo efectuado
em 2002 determinou que, mantidas as condições actuais, os glaciares no cume do Kilimanjaro desaparecerão entre 2015 e 2020.
Um relatório de Março de 2005 indicava que já quase não resta gelo glaciar nesta montanha, sendo a primeira vez em 11 000
anos que o solo é exposto em porções do cume.
O glaciar Furtwängler situa-se próximo do cume do Kilimanjaro. Entre 1976 e
2000, a área deste glaciar diminuíu quase 50%, de 113 000 m² para 60 000 m². Durante trabalhos de campo efectuados no início
de 2006, os cientistas descobriram um grande buraco próximo do centro deste glaciar. Este buraco, atravessando a espessura
restante do glaciar até à rocha subjacente, que é igual a 6 m, deverá aumentar de tamanho e partir o glaciar em dois em 2007.
Glaciar Furtwängler no cume do Kilimanjaro
(em primeiro plano)
A norte do Kilimanjaro situa-se o Monte Quénia, que com os seus 5 199
m de altitude é a segunda montanha mais alta do continente africano. O Monte Quénia tem vários pequenos glaciares que perderam
pelo menos 45% da sua massa desde meados do século XX. De acordo com dados compilados pelo U.S. Geological Survey (USGS),
em 1900 existiam dezoito glaciares no Monte Quénia e em 1986 apenas restavam onze. A área total coberta pelos glaciares era
1.6 km² em 1900, porém em 2000 apenas cerca de 25% (ou 0.4 km²) desta área subsistia. A ocidente dos montes Kilimanjaro e Quénia, erguem-se a uma altitude de 5 109 m os Montes Ruwenzori. Evidências fotográficas
deste conjunto de elevações mostram uma redução marcada das áreas cobertas por glaciares durante o século passado. No período
de 35 anos compreendido entre 1955 e 1990, os glaciares nos Montes Ruwenzori recuaram cerca de 40%. Dada a sua proximidade
à forte humidade da região do Congo, crê-se que os glaciares nos Montes Ruwenzori possam ter um ritmo de recuo mais lento
que os do Kilimanjaro e Quénia.
América
Um estudo efectuado por glaciólogos na América do Sul, revela outro recuo. Mais
de 80% de todo o gelo glaciar nos Andes setentrionais encontra-se concentrado nos picos mais altos em pequenos glaciares com
cerca de 1 km² de superfície. Uma observação efectuada aos glaciares de Chacaltaya na Bolívia e Antizana no Equador entre
1992 e 1998 indica que a taxa de perda de espessura em cada um destes glaciares se situou entre 0.6 e 1.4 m por ano. Os números
referentes ao glaciar de Chalcataya mostram uma perda de 67% do seu volume e de 40% da sua espessura durante o mesmo período.
Desde 1940 o glaciar de Chacaltaya perdeu cerca de 90% da sua massa e espera-se que desapareça totalmente entre 2010 e 2015.
Outros estudos indicam que desde meados da década de 1980, o ritmo de recuo destes glaciares tem aumentado.
Mais para sul, no Peru, os Andes atingem de um modo geral altitudes mais altas,
existindo aqui cerca de 722 glaciares que cobrem uma área de 723 km². A investigação sobre esta zona dos Andes é menos extensa
e aponta para um recuo total de 7% entre 1977 e 1983. A calota de Quelccaya é a maior calota de gelo tropical do mundo, e todos os glaciares que nela têm a sua origem se
encontram em recuo. No caso do maior destes glaciares, o glaciar Qori Kalis, a velocidade de recuo atingiu os 155 m por ano
durante o período de três anos ente 1995 e 1998. O gelo derretido formou um grande lago na frente do glaciar desde 1983, e
pela primeira vez em milhares de anos os solos subjacentes foram postos a descoberto.
Oceania
Na grande ilha da Nova Guiné, existem evidências fotográficas de um recuo maciço
de glaciares desde a exploração aérea da região no início da década de 1930. Dada a posição desta ilha dentro da zona tropical,
a variação sazonal da temperatura varia de pouca a nenhuma. A localização tropical tem um nível de precipitação (chuva e neve)
previsivelmente estável, bem como nebulosidade durante todo o ano, e não ocorreu uma alteração significativa na quantidade
de humidade durante o século XX. Com 7 km² a calota de gelo de Puncak Jaya é a maior da ilha, e desde 1936 retrocedeu de uma
única massa maior para vários pequenos corpos glaciares. Nestes glaciares mais pequenos, investigações feitas entre 1973 e
1976 mostraram um recuo de 200 m no glaciar Meren e de 50 m no glaciar Carstensz. O Northwall Firn, um dos maiores blocos
restantes da calota de gelo que outrora se situava nos cumes de Puncak Jaya, dividiu-se em vários glaciares individualizados
desde 1936. O recurso a imagens do satélite Ikonos obtidas em 2004 sobre os glaciares da Nova Guíné forneceu novas e dramáticas
informações. As imagens indicavam que no período de dois anos entre 2000 e 2002, a parte oriental do Northwall Firn havia
perdido 4.5% da sua massa, a parte ocidental 19.4% e Carstenz 6.8%. Ficou-se também a saber que, em algum momento entre 1994
e 2000 o glaciar Meren havia desaparecido. Além dos glaciares de Puncak Jaya, outra pequena mancha de gelo que se sabe ter existido no cume do Puncak Trikora
desapareceu completamente entre 1939 e 1962.
Glaciares em latitudes médias
Estes glaciares situam-se entre o Trópico de Câncer e o Círculo Polar Ártico
ou entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Polar Antártico. Estas duas regiões apresentam gelo glaciar em glaciares de
montanha, glaciares de vale e até mesmo calotas de gelo mais pequenas, geralmente situados em regiões montanhosas mais elevadas.
Todos estes glaciares se encontram em cadeias montanhosas, destacando-se os Himalaias, os Alpes, as Montanhas Rochosas, as
cordilheiras da costa norte-americana do Pacífico, os Andes na América do Sul e as montanhas da ilha-nação Nova Zelândia.
Nestas latitudes os glaciares são mais frequentes e tendem a ser maiores quanto mais próximos se encontrarem das regiões polares.
Estes glaciares são os mais estudados ao longo dos últimos 150 anos. Tal como no caso dos glaciares situados na zona tropical,
praticamente todos os glaciares das latitudes médias encontram-se num estado de balanço de massa negativo, estando em recuo.
Europa
O World Glacier Monitoring Service (WGMS) elabora, a cada 5 anos, relatórios
sobre as mudanças no ponto terminal dos glaciares, isto é, na sua extremidade menos elevada. No seu relatório de
1995-2000, foram registadas variações no ponto terminal de vários glaciares dos Alpes. No período de cinco anos entre 1995
e 2000, 103 dos 110 glaciares examinados na Suíça, 95 dos 99 na Áustria, a totalidade de 69 na Itália e 6 na França, encontravam-se
em recuo. Os glaciares franceses sofreram um recuo abrupto no período 1942-53 seguido de avanços até 1980, e logo novo recuo
a partir de 1982. Como exemplo, desde 1870 o glaciar Argentiére e o glaciar do Monte Branco recuaram 1150 e 1400 m respectivamente.
O maior glaciar francês, o Mer de Glace, com 11 km de extensão e 400 m de espessura, perdeu 8.3% do seu comprimento (ou 1
km), em 130 anos e diminui a sua espessura ao longo da secção média em 27% (ou 150 m) desde 1907. O glaciar Bossons em Chamonix,
França, recuou 1200 m relativamente à sua extensão em princípios do século XX. Em 2005, dos 91 glaciares suiços estudados,
84 recuaram relativamente à posição dos seus pontos terminais em 2004 e os restantes 7 não apresentavam alterações.
Outros investigadores descobriram que os glaciares alpinos parecem estar a recuar
a um ritmo mais rápido que o de há algumas décadas. Em 2005, dos 91 glaciares observados, 84 estavam em recuo e nenhum em
avanço. O glaciar Trift, recuou mais de 500 m em apenas 3 anos (2003 a 2005), o que equivale a 10% da sua extensão total.
O glaciar de Aletsch, o maior glaciar da Suíça, recuou 2600 m desde 1880. Esta velocidade de recuo também aumentou desde 1980,
com 30% (ou 800 m) do recuo total a ocorrer nos últimos 20% do período de tempo considerado. De igual modo, dos glaciares
situados nos Alpes italianos, apenas um terço se encontravam em recuo em 1980, enquanto que em 1999 os glaciares em recuo
constituíam 89% do total. Os investigadores descobriram que entre 2004 e 2005 todos os glaciares nos Alpes italianos se encontravam
em recuo[. Fotografias repetidas ao longo do tempo em vários pontos dos Alpes, são uma evidência clara de que os
glaciares desta região recuaram significativamente nas últimas décadas . O glaciar Morteratsch, na Suíça, é um exemplo chave.
As medições anuais da variação do comprimento foram iniciadas em 1878. O recuo total desde 1878 até 1998 é de 2 km com uma
velocidade média de recuo aproximadamente igual a 17 m/ano. Este valor médio de longo prazo foi notoriamente ultrapassado
em anos recentes com 30 m/ano para o período 1999-2005.
Um dos maiores motivos de precupação, e que no passado teve grande impacto em
termos de vidas e propriedade destruídas, são as inundações provocadas pela cedência das paredes de lagos glaciares. Os glaciares
juntam rochas e solo, que foram removidos das encostas das montanhas ao longo do tempo, na sua extremidade terminal. Estas
pilhas de materiais muitas vezes formam barragens que retêm atrás de si água, formando lagos glaciares à medida que os glaciares
derretem e recuam desde as suas extensões máximas. Estas morenas terminais são muitas vezes instáveis, conhecendo-se casos
em que ocorreram roturas devido à grande quantidade de água retida ou devido a deslocamentos provocados por terramotos, deslizamentos
ou avalanchas. Se um glaciar apresenta um ciclo de derretimento rápido durante os meses mais quentes do ano, a morena terminal
pode não ser suficientemente resistente como para continuar a reter a água acumulada atrás dela, conduzindo a uma inundação
maciça e localizada. O risco de ocorrência deste tipo de inundações é crescente devido à criação e expansão de lagos glaciares
como resultado do recuo dos glaciares. Inundações passadas foram mortíferas e causaram grandes danos materiais. Vilas e aldeias
situadas em vales estreitos e escarpados, situados a jusante de lagos glaciares, são aquelas que correm maior risco. Em 1892,
uma tal inundação libertou cerca de 200,000 m³ de água do lago do glaciar de Tête Rousse, provocando a morte de 200 pessoas
na localidade francesa de Saint Gervais. Sabe-se que as inundações deste tipo podem ocorrer em qualquer região do mundo onde
existam glaciares. Espera-se que a continuação do recuo dos glaciares crie e expanda lagos glaciares, aumentando assim o risco
de futuras inundações.
Apesar de os glaciares dos Alpes receberem maior atenção dos glaciólogos que
os de outras regiões da Europa, as várias investigações efectuadas indicam que um pouco por toda a Europa os glaciares se
encontram presentemente em recuo. Nos montes Kebnekaise, no norte da Suécia, um estudo de 16 glaciares efectuado entre 1990
e 2001, concluíu que 14 se encontravam em recuo, um em avanço e um encontrava-se estável. Durante o século XX, os glaciares
da Noruega recuaram em termos globais, apesar da ocorrência de breves períodos de avanço em 1910, 1925 e na década de 1990.
Nesta última, 11 dos 25 glaciares noruegueses observados avançaram devido a vários invernos consecutivos com precipitação
acima da média. Porém, após vários anos consecutivos com invernos com precipitação reduzida desde 2000, e com vários verões
com recordes de temperaturas elevadas em 2002 e 2003, os glaciares da Noruega diminuíram significativamente a sua extensão.
Em 2005, apenas 1 dos 25 glaciares monitorizados na Noruega, se encontrava em avanço, dois estavam estacionários e 22 em recuo.
O glaciar norueguês Engabreen recuou 179 m desde 1999, enquanto que os glaciares Brenndalsbreen e Rembesdalsskåka recuaram
116 e 206 m respectivamente, desde 2000. O glaciar Briksdalsbreen recuou 96 m só em 2004, o maior recuo num só ano desde que
as observações deste glaciar se iniciaram em 1900. Na totalidade, o Briksdalsbreen recuou 176 m entre 1999 e 2005.
Ásia

Esta imagem da NASA mostra a formação de numerosos lagos glaciares nos pontos terminais de glaciares
(manchas azuladas) em recuo no Butão (Himalaias). Os Himalaias e outras cadeias montanhosas da Ásia Central apresentam
grandes regiões glaciares. Estes glaciares fornecem água que é vital para países áridos como a Mongólia, China ocidental,
Paquistão e Afeganistão. Tal como sucede com outros glaciares por todo o mundo, os glaciares asiáticos atravessam um período
de declínio rápido da sua massa. A perda destes glaciares produziria um tremendo impacto no ecossistema desta região. Um
relatório elaborado pelo WWF, concluiu que 67% dos glaciares dos Himalaias estão em recuo. O exame de 612 glaciares na China
entre 1950 e 1970, mostra que 53% dos glaciares estudados estão em recuo. Depois de 1990, as medições destes glaciares mostram
que 95% deles estão em recuo, indicando que o recuo destes glaciares se tornava mais generalizado. Os glaciares na região
do Monte Everest, nos Himalaias, encontram-se todos em estado de recuo. O glaciar Khumbu, que é uma das principais rotas de
acesso à base do Monte Everest, recuou 5 km desde 1953. O glaciar Rongbuk, que drena a face norte do Everest para o Tibete,
está em recuo ao ritmo de 20 m por ano. Na Índia, o glaciar Gangotri, que é uma fonte principal da água do rio Ganges, recuou
34 m por ano entre 1970 e 1996 e 30 m por ano desde o ano 2000. Com o recuo dos glaciares nos Himalaias, foram criados vários
lagos glaciares. Fonte de crescente preocupação são as possíveis inundações causadas pela rotura das morenas terminais que
retêm as águas destes lagos glaciares. Investigadores estimam que cerca de 20 lagos no Nepal e 24 no Butão constituem um perigo
para populações humanas em caso de ocorrerem roturas. Um dos lagos identificado como potencialmente perigoso é o Raphstreng
Tsho no Butão, com 1.6 km de comprimento, 0.96 km de largura e 80 m de profundidade em 1986. Em 1995 o lago havia-se expandido
para 1.94 km de comprimento, 1.13 km de largura e 107 m de profundidade. Em 1994, uma inundação provocada por uma rotura no
Luggye Tsho, um lago glaciar adjacente ao Raphstreng Tsho, matou 23 pessoas. Nas montanhas de Ak-Shirak no Quirguistão,
os glaciares sofreram uma pequena perda entre 1943 e 1977 e uma perda acelerada de 20% da sua massa entre 1977 e 2001. Nas
montanhas de Tian Shan, nas fronteiras do Quirguistão com a China e Cazaquistão, os estudos efectuados na sua porção norte
mostram que os glaciares que fornecem água a esta região árida perderam cerca de 2 km³ de gelo por ano entre 1955 e 2000.
Este estudo da Universidade de Oxford relatou ainda que em média, 1.28% do volume destes glaciares tinha sido perdido entre
1974 e 1990. A sul das Tian Shan, a cordilheira Pamir situada sobretudo no Tadjiquistão tem milhares de glaciares, encontrando-se
todos em recuo. Durante o século XX, os glaciares do Tadjiquistão perderam 20 km³ de gelo. O glaciar Fedchenko, com os seus
77 km de extensão, o maior do Tadjiquistão e o mais longo dos glaciares não polares da Terra, perdeu 1.4% do seu comprimento
(ou 1 km), 2 km³ do seu volume e 11 km² de área glaciar durante o século XX. Similarmente, o vizinho glaciar Skogatch perdeu
8% da sua massa total entre 1969 e 1986. O Tadjiquistão e os países vizinhos da cordilheira de Pamir são altamente dependentes
do escoamento das águas glaciares, pois estas asseguram o caudal dos rios durante as secas e estações secas que ocorrem todos
os anos. A continuação do desaparecimento do gelo glaciar resultará num aumento do escoamento de águas dos glaciares a curto
prazo, seguido por um decréscimo, a longo prazo, da água derretida nos glaciares que flui para os rios e ribeiros.
Esta imagem da NASA mostra a formação de numerosos lagos
glaciares nos pontos terminais de glaciares (manchas azuladas) em recuo no Butão (Himalaias).
Os Himalaias e outras cadeias montanhosas da Ásia Central apresentam grandes regiões glaciares. Estes
glaciares fornecem água que é vital para países áridos como a Mongólia, China ocidental, Paquistão e Afeganistão. Tal como
sucede com outros glaciares por todo o mundo, os glaciares asiáticos atravessam um período de declínio rápido da sua massa.
A perda destes glaciares produziria um tremendo impacto no ecossistema desta região.
Um relatório elaborado pelo WWF, concluiu que 67% dos glaciares dos Himalaias estão em recuo. O exame
de 612 glaciares na China entre 1950 e 1970, mostra que 53% dos glaciares estudados estão em recuo. Depois de 1990, as medições
destes glaciares mostram que 95% deles estão em recuo, indicando que o recuo destes glaciares se tornava mais generalizado.
Os glaciares na região do Monte Everest, nos Himalaias, encontram-se todos em estado de recuo. O glaciar Khumbu, que é uma
das principais rotas de acesso à base do Monte Everest, recuou 5 km desde 1953. O glaciar Rongbuk, que drena a face norte
do Everest para o Tibete, está em recuo ao ritmo de 20 m por ano. Na Índia, o glaciar Gangotri, que é uma fonte principal
da água do rio Ganges, recuou 34 m por ano entre 1970 e 1996 e 30 m por ano desde o ano 2000. Com o recuo dos glaciares nos
Himalaias, foram criados vários lagos glaciares. Fonte de crescente preocupação são as possíveis inundações causadas pela
rotura das morenas terminais que retêm as águas destes lagos glaciares. Investigadores estimam que cerca de 20 lagos no Nepal
e 24 no Butão constituem um perigo para populações humanas em caso de ocorrerem roturas. Um dos lagos identificado como potencialmente
perigoso é o Raphstreng Tsho no Butão, com 1.6 km de comprimento, 0.96 km de largura e 80 m de profundidade em 1986. Em 1995
o lago havia-se expandido para 1.94 km de comprimento, 1.13 km de largura e 107 m de profundidade. Em 1994, uma inundação
provocada por uma rotura no Luggye Tsho, um lago glaciar adjacente ao Raphstreng Tsho, matou 23 pessoas.
Nas montanhas de Ak-Shirak no Quirguistão, os glaciares sofreram uma pequena perda entre 1943 e 1977
e uma perda acelerada de 20% da sua massa entre 1977 e 2001. Nas montanhas de Tian Shan, nas fronteiras do Quirguistão com
a China e Cazaquistão, os estudos efectuados na sua porção norte mostram que os glaciares que fornecem água a esta região
árida perderam cerca de 2 km³ de gelo por ano entre 1955 e 2000. Este estudo da Universidade de Oxford relatou ainda que em
média, 1.28% do volume destes glaciares tinha sido perdido entre 1974 e 1990.
A sul das Tian Shan, a cordilheira Pamir situada sobretudo no Tadjiquistão tem milhares de glaciares,
encontrando-se todos em recuo. Durante o século XX, os glaciares do Tadjiquistão perderam 20 km³ de gelo. O glaciar Fedchenko,
com os seus 77 km de extensão, o maior do Tadjiquistão e o mais longo dos glaciares não polares da Terra, perdeu 1.4% do seu
comprimento (ou 1 km), 2 km³ do seu volume e 11 km² de área glaciar durante o século XX. Similarmente, o vizinho glaciar Skogatch
perdeu 8% da sua massa total entre 1969 e 1986. O Tadjiquistão e os países vizinhos da cordilheira de Pamir são altamente
dependentes do escoamento das águas glaciares, pois estas asseguram o caudal dos rios durante as secas e estações secas que
ocorrem todos os anos. A continuação do desaparecimento do gelo glaciar resultará num aumento do escoamento de águas dos glaciares
a curto prazo, seguido por um decréscimo, a longo prazo, da água derretida nos glaciares que flui para os rios e ribeiros.
Oceania

Estes glaciares na Nova Zelândia
têm mantido um recuo rápido durante os últimos anos. Repare-se nos lagos terminais, o recuo do gelo branco (gelo livre da
cobertura das morenas), e as morenas mais altas devido ao adelgaçamento do gelo.
Na Nova Zelândia, os glaciares de montanha encontram-se em recuo generalizado
desde 1890, com uma aceleração do recuo desde 1920. A maioria dos glaciares adelgaçaram de forma mensurável e perderam extensão
e as zonas de acumulação de neve passaram a situar-se a altitudes cada vez maiores com o decorrer do século XX. Durante o
período entre 1971 e 1975 o glaciar Ivory recuou 30 m no seu ponto terminal tendo ocorrido simultaneamente a perda de 26%
da sua superfície. Desde 1980, numerosos pequenos lagos glaciares formaram-se atrás das novas morenas terminais de vários
destes glaciares. Glaciares como o Classen, Godley e Douglas apresentam lagos glaciares recentes abaixo dos seus pontos terminais,
devido ao recuo ocorrido nos últimos 20 anos. Imagens de satélite indicam que estes lagos continuam a expandir-se.
Vários glaciares, como os muito visitados glaciares Fox e Franz Josef na Nova
Zelândia, avançaram periodicamente, sobretudo na década de 1990, mas a escala destes avanços é pequena quando comparada com
o recuo ocorrido ao longo do século XX. Estes grandes glaciares, de fluxo rápido e situados em encostas muito inclinadas têm-se
mostrado muito reactivos a pequenas alterações dos seus balanços de massa. Alguns anos de condições favoráveis ao avanço dos
glaciares, tais como maior queda de neve e temperaturas mais baixas, são rapidamente reflectidas num avanço correspondente,
seguido por um recuo igualmente rápido quando essas condições favoráveis deixam de existir. Os glaciares que se encontram
em avanço em alguns locais da Nova Zelândia encontram-se neste estado devido a uma alteração climática temporária associada
ao fenómeno El Niño, que trouxe mais precipitação e verões mais frescos e nublados desde 2002.
América do Norte
Estados Unidos da América
Os glaciares da América do Norte situam-se sobretudo ao longo das Montanhas
Rochosas nos Estados Unidos da América e Canadá, e nas cordilheiras da Costa do Pacífico que se estendem desde o Alasca até
ao norte da Califórnia. Apesar de a Gronelândia estar geologicamente associada à América do Norte, faz também parte da região
ártica. Além de alguns glaciares de maré, como o glaciar Taku, que se encontram na fase de avanço do ciclo de glaciares costeiros
prevalente ao longo da costa do Alasca, virtualmente todos os glaciares da América do Norte se encontram em recuo. A velocidade
de recuo observada cresceu rapidamente desde 1980, e de um modo geral em cada década que passa observam-se velocidades de
recuo maiores que na década precedente. Existem também alguns glaciares vestigiais dispersos pela Sierra Nevada da Califórnia
e Nevada.
A cordilheira das Cascatas no oeste da América do Norte, estende-se desde o
sul da Colúmbia Britânica no Canadá, até ao norte da Califórnia. Exceptuando o Alasca, cerca de metade da área glacial dos
Estados Unidos da América está contida nos mais de 700 glaciares do Parque Nacional North Cascades, uma extensão da cordilheira
entre a fronteira com o Canadá e o centro do estado de Washington. Estes glaciares contêm tanta água como aquela contida em
todos os lagos e albufeiras do resto do estado, fornecendo muita da água que alimenta os caudais de rios e ribeiros durante
os meses secos do verão, ou seja, cerca de 870,000 m³.

O glaciar Boulder recuou 450 m entre
1987 e 2005.

O glaciar Easton recuou 255 m
entre 1990 e 2005.
Tão recentemente como em 1975, muitos
glaciares de North Cascades encontravam-se em avanço devido ao tempo mais frio e precipitação superior ao normal que se verificaram
entre 1944 e 1976. No entanto, em 1987 todos os glaciares de North Cascades encontravam-se em recuo e a sua velocidade de
recuo tem aumentado em cada década relativamente à década precedente, desde meados da década de 1970. Entre 1984 e 2005, os
glaciares de North Cascades perderam, em média, mais de 12.5 m da sua espessura e entre 20 e 40% do seu volume.
Os glaciólogos que estudam os glaciares de North Cascades concluíram que todos
os 47 glaciares monitorizados encontram-se em recuo e que quatro deles - os glaciares Spider, Lewis (na imagem), Milk Lake
e David - desapareceram totalmente desde 1985. O glaciar de White Chuck é um exemplo particularmente dramático. Este glaciar
encolheu de 3.1 km² de área em 1958 para 0.9 km² em 2002. De igual modo, o glaciar Boulder no flanco sudeste do Monte Baker
recuou 450 m entre 1987 e 2005. Este recuo ocorreu durante um período de reduzida queda de neve no inverno e com temperatura
mais alta que o normal durante o verão. Nesta região das Cascatas, a acumulação de neve durante o inverno decresceu 25% desde
1946, enquanto a temperatura de verão subiu 0.7 ºC durante este mesmo período. A redução na acumulação de neve aconteceu apesar
de um pequeno aumento da precipitação no inverno, o que reflecte temperaturas mais altas no inverno com a consequente queda
de chuva e derretimento dos glaciares mesmo durante o inverno. Em 2005, 67% dos glaciares de North Cascades que foram objecto
de observação encontravam-se em desequilíbrio e não suportarão a continuação das condições climáticas actuais. Estes glaciares
acabarão por desaparecer, a menos que as temperaturas baixem e que a quantidade de precipitação gelada aumente. Os restantes
glaciares deverão estabilizar, desde que o clima não se torne mais quente, mas encontrar-se-ão muito reduzidos no seu tamanho.
Nas encostas abrigadas dos picos mais altos do Glacier National Park (GNP),
em Montana, os glaciares estão rapidamente a diminuir a sua extensão. A área de cada glaciar tem sido cartografada ao longo
de décadas pelos National Park Service e U.S. Geological Survey. A comparação de fotografias obtidas em meados do século XIX
com imagens actuais, fornece evidências claras de que os glaciares deste parque recuaram muito desde 1850. Os glaciares maiores
apresentam actualmente um terço do tamanho que tinham em 1850, e muitos glaciares mais pequenos pura e simplesmente desapareceram.
Apenas 27% dos 99 km² de superfície do parque cobertos por glaciares em 1850 assim permaneciam em 1993. Os investigadores acreditam que pelo ano 2030, grande parte do gelo glaciar do Glacier National Park terá desaparecido
a não ser que os padrões climáticos actuais invertam o seu curso. O glaciar Grinnell é apenas um dos muitos glaciares do Glacier
National Park bem documentados fotograficamente ao longo de décadas. As fotografias abaixo mostram claramente o recuo deste
glaciar desde 1938.
O clima semi-árido de Wyoming ainda consegue manter cerca de uma dúzia de pequenos
glaciares no Grand Teton National Park. Todos eles apresentam evidências de recuo durante os últimos 50 anos. O glaciar Schoolroom,
situado ligeiramente para sudoeste de Grand Teton, e um dos mais fáceis de visitar no interior do parque, deverá desaparecer
cerca de 2025. Investigações levadas a cabo entre 1950 e 1999 demonstraram que os glaciares na Floresta Nacional
de Bridger-Teton e na Floresta Nacional de Shoshone nas montanhas de Wind River perderam cerca de dois terços do seu tamanho
no período indicado. As fotografias conhecidas indicam que actualmente os glaciares têm uma extensão que é metade daquela
que tinham em finais da década de 1890. Outros trabalhos indicam ainda que o recuo dos glaciares terá sido proporcionalmente
maior na década de 1990 que em qualquer outra nos últimos 100 anos. O glaciar Gannett na encosta nordeste de Gannett Peak,
é o maior glaciar das Montanhas Rochosas a sul do Canadá. Este glaciar terá perdido mais de 50% do seu volume desde 1920,
com quase metade dessa perda a ocorrer a partir de 1980. Os glaciólogos acreditam que os glaciares que ainda restam no Wyoming
terão desaparecido em meados do século XXI, se os padrões climáticos se mantiverem.
Existem milhares de glaciares no Alasca, mas apenas alguns têm nome. O glaciar
Columbia, próximo de Valdez, recuou 15 km nos últimos 25 anos, sendo origem de inúmeros icebergues. O glaciar Valdez, situado
na mesma região também recuou significativamente. "Um levantamento dos glaciares costeiros do Alasca, feito a partir de avião,
identificou mais de uma dúzia de glaciares em recuo rápido, incluindo-se entre eles os seguintes: Grand Plateau, Alsek, Bear
e Excelsior. Dos 2000 glaciares observados 99% encontra-se em recuo". A Baía Gelada no Alasca é alimentada por três grandes
glaciares - Guyot, Yahtse e Tyndall - tendo todos eles sofrido perdas de comprimento e espessura e consequentemente de área.
O glaciar Tyndall separou-se do glaciar Guyot durante a década de 1960, devido ao recuo deste, e recuou 24 km desde essa altura,
com um recuo médio de 500 m/ano.
O Programa de Pesquisa do Campo de Gelo Juneau tem monitorizado os glaciares
de descarga do campo de gelo de Juneau desde 1946. No lado oeste do campo de gelo o término do glaciar Mendenhall, que flui
para os subúrbios de Juneau, recuou 580 m. Dos dezanove glaciares do campo de gelo Juneau, dezoito estão em recuo, e um, o
glaciar Taku, encontra-se em avanço. Onze destes glaciares recuaram mais de 1 km desde 1948. O glaciar Taku encontra-se em avanço pelo menos desde 1890, altura em que o naturalista John Muir observou uma grande
frente do glaciar que dava origem a icebergues. Por volta de 1948, o fiorde adjacente tinha sido preenchido, e o glaciar Taku
deixou de produzir icebergues e continuou o seu avanço. Em 2005 este glaciar encontrava-se a apenas 1.5 km de atingir Taku
Point e assim bloquear o braço de mar de Taku. O avanço médio do glaciar Taku foi 17 m/ano entre 1988 e 2005. O balanço de
massa foi muito positivo no período 1946-88; no entanto, desde 1988 o balanço de massa tem sido ligeiramente negativo, facto
que deverá abrandar a velocidade de avanço deste grande glaciar .
Registos de balanço de massa efectuados ao longo de muitos anos relativos ao
glaciar Lemon Creek no Alasca, mostram uma ligeira diminuição do balanço de massa ao longo do tempo. O balanço médio anual
para este glaciar era -0.23 m/ano entre 1957 e 1976. O balanço de massa tem-se tornado cada vez mais negativo, sendo em média
-1.04 m/ano entre 1990 e 2005. Medições altimétricas repetidas ao longo de vários anos para 67 glaciares do Alasca mostram
que as velocidades de adelgaçamento (ou de perda de massa) pelo menos duplicaram, quando comparadas com as registadas entre
1950 e 1995 (0.7 m/ano) e entre 1995 e 2001 (1.8 m/ano). Trata-se de uma tendência sistémica com a perda de massa a corresponder
a perda de espessura, o que leva à aceleração do recuo - os glaciares não só estão a recuar, como também estão muito mais
delgados. No Parque Nacional Denali, o ponto terminal do glaciar Toklat tem recuado 24 m/ano e o glaciar Cantwell 10 m/ano.
Bem documentados no Alasca são os glaciares de avanço rápido (até 100 m/dia), ainda que as razões por detrás de tais avanços
repentinos não sejam conhecidas. São exemplos deste tipo de glaciares no Alasca os glaciares Varigated, Black Rapids, Muldrow,
Susitna e Yanert. No entanto, estes glaciares encontram-se em termos globais em recuo, apesar da ocorrência de pequenos períodos
de avanço.
Canadá
Nas Montanhas Rochosas do Canadá os glaciares são geralmente maiores e mais
comuns que em Montana. Um dos glaciares desta zona mais facilmente acessível é o glaciar Athabasca, que é um glaciar de descarga
do campo de gelo Columbia. O glaciar Athabasca recuou mais de 1 500 m desde finais do século XIX. A velocidade de recuo deste
glaciar aumentou desde 1980, após um período de recuo lento entre 1950 e 1980. O glaciar Peyto em Alberta cobrindo uma área
de 12 km², recuou rapidamente durante a primeira metade do século XX, estabilizando a partir de 1966, recomeçando a recuar
em 1976. O glaciar Illeillewaet no Parque Nacional Glacier na Colúmbia Britânica, recuou 2 km desde que foi fotografado pela
primeira vez em 1887.
América do Sul
Grande parte das populações humanas em redor dos Andes centrais e meridionais
na Argentina e Chile, reside em áreas que são dependentes da água fornecida por glaciares em fusão. A água destes glaciares
alimenta também os caudais dos rios em alguns dos quais foram construídas barragens para produção hidroeléctrica. Alguns investigadores
crêem que em 2030 muitas das grandes calotas de gelo das zonas mais elevadas dos Andes terão desaparecido, se as actuais tendências
climáticas se mantiverem. Na Patagónia, na ponta sul do sub-continente, as grandes calotas de gelo recuaram 1 km desde o início
da década de 1990 e 10 km desde finais do século XIX. Foi também observado que que os glaciares da Patagónia estão a recuar
a uma velocidade maior que a dos glaciares de qualquer outra região do mundo. O campo de gelo do norte da Patagónia perdeu
93 km² de área glaciar durante os anos compreendidos entre 1945 e 1975 e 174 km² entre 1975 e 1996, o que indica
que a velocidade de recuo está em crescimento. O campo de gelo do sul da Patagónia exibe uma tendência geral de recuo em 42
glaciares, enquanto quatro se encontram em equilíbrio e dois em avanço, considerando os anos compreendidos entre 1944 e 1986.
O maior recuo verificou-se no glaciar O'Higgins, que durante o período 1896-1995 recuou 14 km. O glaciar Perito Moreno com
30 km de extensão total é um dos principais glaciares de descarga da calota de gelo patagónica, bem como o mais visitado nesta
região. O Perito Moreno encontra-se actualmente em equilíbrio, mas sofreu oscilações frequentes no período 1947-1996, com
um ganho líquido de extensão igual a 4.1 km. Este glaciar avançou desde 1947, e mantém-se estável desde 1992. O glaciar Perito
Moreno é um dos três glaciares patagónicos que se sabe terem avançado, enquanto são centenas os que se encontram em recuo.
Regiões polares
Apesar de estarem próximos de e de serem importantes para populações humanas,
os glaciares de vale e de montanha das regiões tropicais e das médias latitudes constituem apenas uma pequena fracção do gelo
glaciar existente na Terra. Cerca de 99% do gelo de água doce encontra-se nos mantos de gelo polares e subpolares da Antárctica
e Gronelândia. Estes mantos de gelo contínuos e de escala continental, com 3 km ou mais de espessura, cobrem grande parte
das superfícies continentais polares e subpolares. Como rios fluindo de um enorme lago, numerosos glaciares de descarga transportam
o gelo das orlas dos mantos de gelo para os oceanos.
Islândia
Nesta ilha-nação do Atlântico Norte encontra-se Vatnajökull, a maior calota
de gelo da Europa. O Breiðamerkurjökull é um dos glaciares de descarga de Vatnajökul, tendo recuado 2 km entre 1973 e 2004.
No início do século XX o Breiðamerkurjökull estendia-se até 250 m do oceano, mas em 2004 o seu ponto terminal havia recuado
3 km em direcção ao interior da ilha. Este recuo do glaciar expôs uma lagoa em rápida expansão pejada de icebergues originados
na frente daquele. Esta lagoa tem 110 m de profundidade e quase duplicou o seu tamanho entre 1994 e 2004. Apenas um dos glaciares
de descarga de Vatnajökull (num total de aproximadamente 40 glaciares designados por nomes próprios) não se encontrava em
recuo em 2000. Na Islândia, entre 34 glaciares estudados entre 1995 e 2000, 28 encontravam-se em recuo, quatro encontravam-se
estáveis e dois encontravam-se em avanço.
Canadá
As ilhas canadenses do Ártico têm várias calotas geladas de grande dimensão,
incluindo as calotas de Penny e Barnes na ilha Baffin, a calota de Bylot na ilha Bylot e a calota de Devon na ilha de Devon.
Todas estas calotas encontram-se em adelgaçamento e recuo lentos. A calotas de Penny e Barnes têm perdido espessura à razão
de cerca de 1 m/ano nos seus pontos de menor elevação entre 1995 e 2000. Em termos globais, entre 1995 e 2000, as calotas
geladas no Ártico canadiano perderam 25 km³ por ano. Entre 1960 e 1999, a calota de Devon perdeu 67 km³ de gelo, sobretudo
devido à perda de espessura. Todos os principais glaciares de descarga ao longo da margem oriental da calota de Devon recuaram
1 km desde 1960. No planalto de Hazen da ilha Ellesmere, a calota de Simmon perdeu cerca de 47% da sua área desde 1959[.
Se as condições climáticas actuais se mantiverem, o restante gelo glaciar do planalto de Hazen terá desaparecido por volta
de 2050. Em 13 de Agosto de 2005 a plataforma de gelo Ayles com 66 km² de extensão separou-se
da costa norte da ilha de Ellesmere, flutuando em direcção ao Oceano Ártico.Esta separação seguiu-se à partição
da plataforma de gelo Ward Hunt em 2002. A plataforma de gelo de Ward Hunt perdeu 90% da sua extensão no último século.
Europa do Norte
As ilhas árticas ao norte da Noruega, Finlândia e Rússia mostram, todas elas,
evidências de recuo dos glaciares. No arquipélago de Svalbard, a ilha de Spitsbergen possui numerosos glaciares. Estudos indicam
que o glaciar Hansbreen em Spitsbergen recuou 1.4 km entre 1936 e 1982 e outros 400 m no período entre 1982 e 1999. O Blomstrandbreen,
um outro glaciar de Spitsbergen, recuou aproximadamente 2 km nos últimos 80 anos. Desde 1960 o recuo anual médio do Blomstrandbreen
foi igual a 35 m, e esta média foi influenciada pela aceleração do recuo desde 1995. No arquipélago de Novaya Zemlya, a norte da Rússia, os estudos efectuados indicam que em 1952 existiam 208 km de linha
de costa gelada. Em 1993 este valor havia diminuído 8% para 198 km.
Gronelândia
Na Gronelândia, o recuo dos glaciares têm sido observado nos glaciares de descarga,
resultando num aumento da velocidade do gelo e desestabilização do balanço de massa do manto de gelo que lhes dá origem. O
período desde 2000 viu aparecer o recuo em alguns grandes glaciares que há muito se encontravam estáveis. Três dos glaciares
estudados - Helheim, Kangerdlugssuaq e Jakobshavn Isbræs - drenam conjuntamente mais de 16% da manto de gelo da Gronelândia.
No caso do glaciar Helheim, os investigadores utilizaram imagens de satélite para determinar o movimento e recuo do glaciar.
Imagens de satélite e fotografias áreas das décadas de 1950 e 1970 mostram que a frente do glaciar se havia mantido imóvel
durante décadas. Em 2001 o glaciar entrou em recuo rápido, e em 2005 havia recuado um total de 7.5 km, acelerando de 21.33
m/dia para 33.5 m/dia durante aquele período.
Jakobshavn Isbræ no oeste da Gronelândia, é um dos principais glaciares de descarga
do manto de gelo da Gronelândia, bem como o glaciar mais rápido do mundo ao longo do último meio século. Pelo menos desde
1950 que se move a velocidades superiores a 24 m/dia com um ponto terminal estável. Em 2002, a sua ponta terminal flutuante
com 12 km de extensão entrou em recuo acelerado, com a frente de gelo e ponta teminal a desintegrarem-se, acelerando para
uma velocidade de recuo superior a 30 m/dia. Numa escala temporal mais curta, porções do tronco principal do glaciar Kangerdlugssuaq
que se moviam a 15 m/dia entre 1998 e 2001, foram observadas a mover-se 40 m/dia no verão de 2005. Este glaciar não só recuou,
como perdeu mais de 100 m da sua espessura.
O adelgaçamento acelerado, aceleração e recuo dos glaciares Helheim, Jakobshavns
e Kangerdlugssuaq na Gronelândia, ocorridos quase simultaneamente, sugerem um mecanismo desencadeante comum, como o derretimento
superficial aumentado devido ao aquecimento do clima regional. As actuais velocidades de fluxo são demasiado elevadas para
serem causadas unicamente pela deformação interna do gelo, implicando que um aumento da força de escorregamento basal devido
ao aumento de produção de água por degelo é a causa provável dos aumentos de velocidade. Este fenómeno foi designado como
"efeito Jakobshavns" por Terence Hughes da Universidade do Maine em 1986.
Antártica
Colapso da plataforma de gelo Larsen
B na antárctica. Esta plataforma de gelo tinha uma área equivalente à do estado americano de Rhode Island.
O clima da Antárctica é caracterizado pelo frio intenso e grande aridez. A maior
parte do gelo de água doce existente no mundo está contido nos grandes mantos de gelo que cobrem o continente antárctico.
O exemplo mais dramático de recuo glaciar neste continente é a perda de grandes secções da plataforma de gelo Larsen. As plataformas
de gelo não são estáveis quando ocorre derretimento superficial, e o colapso da plataforma de gelo Larsen foi causado por
temperaturas mais altas durante a época de fusão, que conduziram à ocorrência de derretimento superficial e consequente formação
de lagos pouco profundos sobre a plataforma de gelo. A plataforma de gelo Larsen perdeu 2500 km² entre 1995 e 2001. Num período
de 35 dias, com início em 31 de Janeiro de 2002, cerca de 3250 km² da área da plataforma desintegraram-se.
A plataforma apresenta actualmente 40% da sua extensão estável mínima anterior. Estudos recentes do British Antarctic Survey
prevêem a potencial fragmentação da plataforma de gelo George VI devida ao aquecimento das correntes oceânicas resultante
do aquecimento global.
O glaciar de Pine Island, um glaciar de descarga antárctico que flui para
o Mar de Amundsen, perdeu 3.5 ± 0.9 m por ano e recuou um total de 5 km em 3.8 anos. O ponto terminal do glaciar de Pine Island
é uma plataforma de gelo flutuante, e o ponto em que se encontra emersa está a recuar 1.2 km por ano. Este glaciar drena uma
porção substancial do manto de gelo da Antárctica Ocidental e tem sido descrito como o ponto fraco deste manto de gelo.
Idêntico padrão de adelgaçamento e recuo acelerado é observável no vizinho glaciar Thwaites. Adicionalmente o glaciar Dakshin
Gangotri, um pequeno glaciar de descarga do manto de gelo antárctico, recuou a uma velocidade média de 0.7 m/ano entre 1983
e 2002. Na Península Antárctica, que é a única secção da Antárctica que se estende bem para norte do círculo polar antárctico,
existem centenas de glaciares em recuo. Num estudo de 244 glaciares da península, 212 recuaram em média 600 m desde as primeiras
observações efectuadas em 1953. O maior recuo deu-se no glaciar Sjogren, que se encontra agora 13 km mais distante da costa
do que na sua posição de 1953. Existem 32 glaciares que se observou terem avançado; no entanto este avanço foi modesto, em
média 300 m por glaciar, o que é significativamente menor que o recuo maciço observado.
Impactos do recuo dos glaciares
O recuo continuado dos glaciares terá vários impactos quantitativos distintos.
Em áreas muito dependentes das águas escoadas desde glaciares que derretem durante os meses mais quentes do verão, a continuação
do recuo actual acabará eventualmente por fazer desaparecer o gelo glaciar e reduzir substancialmente ou mesmo eliminar a
quantidade de água escoada. Uma redução do escoamento afectará a capacidade de irrigação das colheitas e reduzirá os caudais
estivais dos cursos de água, necessários à manutenção dos níveis de água em albufeiras e reservatórios. Esta situação é particularmente
aguda para a irrigação na América do Sul, onde numerosos lagos artificiais são cheios exclusivamente com água originada no
derretimento de glaciares. Os países da Ásia Central são também historicamente dependentes da água que sazonalmente escorre
dos glaciares, quer para a irrigação quer para o consumo humano. Na Noruega, Alpes e Costa Pacífica do Noroeste da América
do Norte, as águas dos glaciares são importantes para a produção hidroeléctrica.
Alguns destes recuos deram origem a esforços para abrandar a perda dos glaciares
dos Alpes. Como meio de retardar o derretimento dos glaciares utilizados por certas estâncias de esqui da Áustria, os glaciares
Stubai e Pitztal foram cobertos com plástico. Na Suíça é também utilizado plástico para reduzir o derretimento de gelo glaciar
utilizado na prática de esqui. Apesar de poder ser vantajosa para as estâncias de esqui em pequena escala, não se pensa que
esta prática possa ser economicamente praticável a uma escala muito maior.
Muitas espécies de plantas e animais de água doce e de água salgada, estão dependentes
de águas fornecidas por glaciares para que seja mantido o habitat frio a que se adaptaram. Algumas espécies de peixes de água
doce necessitam água fria para sobreviver e reproduzir-se, como por exemplo o salmão. A redução do escoamento de água proveniente
dos glaciares poderá conduzir a caudais insuficientes nos cursos de água, impedindo a sobrevivência desta espécies.
As alterações nas correntes oceânicas devido ao aumento da quantidade de água
doce que chega aos oceanos devido ao derretimento de glaciares, e as potenciais alterações da circulação termohalina, podem
ter impactos nas reservas pesqueiras de que os humanos dependem, bem como sobre o próprio clima.
O potencial para uma grande subida do nível do mar depende sobretudo da
ocorrência de fusão significativa nos mantos de gelo polares da Gronelândia e da Antárctica, pois é aqui que se encontra grande
parte do gelo glaciar. O British Antarctic Survey, utilizando modelos climáticos, determinou que pelo menos nos próximos 50
anos, a queda de neve na Antárctica deverá continuar a exceder as perdas glaciares devidas ao aquecimento global. A perda
glaciar na Antártica não está a aumentar significativamente, e não se sabe se este continente tem tendência a arrefecer ou
a aquecer, apesar da Península Antártica ter aquecido em anos recentes, provocando o recuo dos glaciares nessa região. Se
todo o gelo dos mantos polares derretesse, estima-se que os oceanos do mundo veriam o seu nível aumentado em cerca de 70 m.
No entanto, com os baixos níveis de derretimento esperados para a Antárctica, o nível do mar não deverá subir mais de 0.5
m, durante o século XXI, com uma subida média de 0.004 m/ano. A expansão térmica dos oceanos, independente do derretimento
dos glaciares, contribuirá o suficiente para duplicar esse valor.
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